21.1.12

Captains of the Sinking ship

Kylesa regressaram a Portugal a semana passada para dois concertos no Porto e Lisboa. Infelizmente não fui, mas parece-me uma boa altura para recordar e prestar homenagem à primeira passagem desta desta banda pelas terras lusas. Um daqueles concertos que ficam para ficam para a história!


Foi uma longa viagem até ao Porto, mal chegámos foi só o tempo de encontrar um lugar para encher a barriga com qualquer coisa e ir directo para o local do concerto. Enquanto se comia, havia quem sacasse do ultimo álbum de Kylesa na altura e fosse decorar as letras enquanto ainda havia tempo. A expectativa era alta! Adivinhava-se a noite de peso, mas não se fazia ideia da energia que se ia gerar naquele barco...
Barco? O concerto foi no Portorio:
'Localizado na privilegiada paisagem da foz do rio Douro, no Porto, o Portorio nasceu sobre a estrutura do antigo Gandufe, um batelão de carga, lançado ao mar em 1947 que navegou mais de três décadas entre Portugal e África.' 

E onde são os concertos? No porão, sem janelas, escuro, ambiente de covil, foi-se a casa das máquinas, do outro lado das paredes o rio Douro envolve a sala, massa de água esmagadora, uma tensão! Tudo num porão, banda e público, do palco à plateia é um mero degrau, verdadeiro frente-a-frente, música e emoções, atitudes e reacções, uns a alimentarem-se dos outros, ambos bestiais, em crescendo a energia acumula-se, um poder tão grande quanto o das águas...
Esta é a sala para as bandas com aclamada atitude hardcore (seja qual for a sonoridade, arrisco-me a dizer)!

E nessa noite haviam logo duas...

Dark Castle abriram a noite.. e desencadearam a hecatombe! Um concerto excelente composto por músicas do seu único álbum na altura, Spirited Migration. O casal da Florida, ela na guitarra e voz (e que voz, absolutamente digna do adjectivo bestial!) e ele na bateria, interpretou os seus leviatãs musicais e as águas do rio não mais sossegaram, o barco começava a baloiçar...
Não sei se a maior parte da gente que lá estava não conhecia o som de Dark Castle ou se, por outro lado, a expectativa era tal que o pessoal preferiu ficar a apreciar. Posteriormente percebi que a maior parte gostou do concerto, mas é que o contraste de atitudes do público perante as duas bandas foi tanto que na altura fiquei com a impressão contrária!


Mal Kylesa subiu o degrau do palco...
Ligar amplificadores, os dois bateristas prontos, começa a primeira música, nem foram precisas muitas notas, foi como se as marés do Douro, previamente atiçadas e enraivecidas, tivessem entrado porão a dentro! Lembro-me de como em poucos segundos fui parar das primeiras filas até ao fundo da sala e de volta para a linha da frente logo em seguida, uma fluidez hídrica se apoderou do público! Saltos, empurrões, esbracejos,  cabeças e cabelos em rotação máxima, todos os corpos sob o feitiço das duas baterias, baloiçando, contorcendo, todos os corpos em expressão do ritmo tribal. Todos os corpos e todas as vozes! Tudo era gritado, letras, riffs, emoções... cada música um hino a plenos pulmões! Libertação, Loucura... bestialidade! Tudo isso num só em cada um de nós! O barco afunda-se!
Laura Pleasants, captain of the sinking ship!

Pena é não vos conseguir traduzir isto tudo em imagens! Este acontecimento ficou muito mal documentado, poucos vídeos e poucas fotos. Existe uma bootleg que dá para matar saudades mas a qualidade não é fantástica. Resta-me deixar-vos com os 3 melhores testemunhos desta noite mítica e agradecer à rapariga que os gravou!