Esta espécie de Balada sinistra pintada sobre paisagens Trip-Hopescas é primeiro que tudo, um Hino à sensualidade.
A voz suave que em tom irónico murmura, conspira, e poisa sobre mim palavras embrulhadas na mais macia das sedas…
Palavras essas, encarniçadas no intento, vorazes na ânsia de rasgar o vestido daquela minha criatura que se atreve a interromper os meus passos, a desmoronar os meus sonhos, a roubar o meu coração, sem, no entanto, fixar os seus olhos nos meus...
Os acordes distantes, ondulantes, hesitantes que acompanham a sua passagem, como que deslizando no seu vestido branco, com leves toques de azul e violeta aqui e ali, tornam tão física esta sensação de desprezo! Transformam o pequeno lago que nos separa num Oceano inavegável.
Será ela a ilha para lá do horizonte? Dizem que a sua única estação é um Inverno estéril de 12 meses, ano após ano... o Sol é um mito.
E, no entanto, por que sinto uma transumância tão abundante percorrendo as tuas terras?
Serás assim tão fria?
Então porque sei que no lugar do coração, tens um jardim invejável perante o próprio Éden?
Não obstante esta composição inicial que me faz desejar até a secretária que está à minha frente e percorrer a sua madeira com as minhas mãos pecadoras como se esta fosse a mais virgem e pura das carnes femininas,
a razão por que coloco esta música aqui é outra…
(... O seu sonambulismo perante o meu Desejo ardente consome-me as palavras. Elas já não valem a pena. Elas são um mero eco dos ventos que passam…)
E é por isso que aquele solo de guitarra faz todo o sentido nesta música: notas tímidas, agrupam-se aos poucos, hesitantes, numa corrente Blues que cresce, alimentando-se a si própria para ajudar o meu corpo a expressar aquilo que o espírito não consegue compreender. Exercitando a minha coluna dorsal à força do que só um estilo tão subtilmente emocional como o Blues desencanta, sinto que sou capaz de voar.
À medida que as escalas crescem em tamanho e em velocidade, sem medo e sem nexo, a respiração perde o controlo e os pulmões juntam-se à festa, numa pulsante competição com o coração.
As notas parecem entrar por onde o Suor sai.
E subitamente ela caí sob os meus braços dormentes... Eu percorro os seus lábios com olhos vidrados que acabam por encontrar os dela, e aí ambos partilhamos na alma, a mesma verdade, a mesma certeza.
O banquete inicia-se, composto pelas fraquezas de cada um e é o espírito quem se alimenta!
E tão ingénuos como crianças, metamorfoseamo-nos nos mais Dantescos Demónios para consumar o mais Divino dos abusos!
Deliciem-se também vós!
Emptyself - Doll faced Vulture